domingo, 4 de março de 2007

A impotência das duas da manhã!

"Passa das duas da manhã. Acendo a luz. Bebo água. Apago a luz. Abro os olhos na escuridão que me envolve. Fecho a luz do meu coração". (24/3/1949)

Dia sim dia não, faço este movimento. Nos dias não, é só porque estou muito cansada para tal. O fecho do coração já não se repete. Mantém-se. Já lá vão muitos anos e o meu diário já não faz sentido. A não ser a monotonia da minha vida. É por isto que eu nunca gostei de diários. Bem tinha razão quando rasguei as poucas folhas que rabisquei sobre o que senti. Que importância tinha hoje isso para os meus cabelos brancos? Armagura. Confirmação duma vida previsível. É que escreveria páginas e páginas com tudo o que não fiz... (se calhar pos isso só encontro esta pequena folha com algo que conseguia sentir: a impotência das duas da manhã!)

Os anos parecem horas quando mal usados. E o peso que nos obriga a carregar parecem séculos:
Vivi tão poucas horas e sofro séculos por isso!

Agora quero viver o meu momento de adrenalina. O derradeiro. E termino como nunca gostei, como é hábito na minha vida (viver como nunca gostei), pelo menos na escrita.

Que faça com que todos vós terminem também com a apatia!

Ass: Maria

by Dina

Um comentário:

Tertulianos disse...

"Vivi tão poucas horas e sofro séculos por isso!".

Frase extraordinária...metáfora que traduz um sentimento que, muitas vezes, me assola.

Parabéns pelo texto. Lindíssimo.

Gasparzinho